segunda-feira, 22 de março de 2010

Ser ou não ser "chicleteira"? Eis a questão...

Há mais ou menos um mês, meu irmão veio me falar que ia ter show do Chiclete com Banana no Rio Centro.
- Quer ir?
Eu que, desde a primeira sexta feira de volta ao Rio, não consigo recusar nenhum convite de saída, principalmente as de estilo mais brasileiro, nem pensei e respondi logo que sim.
- Claroooo. Chicleteee!

Quase seis anos passaram desde a última vez que eu fui a uma micareta. Na primeira vez, eu era super nova - nova até demais pra esse tipo de evento - mas cismei que queria sair pra algum lugar diferente. Foi só ouvir meu irmão dizer que ia no Cerveja e Cia (trio da Ivete), pra eu querer ir também. Coisa de irmã mais nova que quer fazer tudo o que o irmão mais velho faz, sabe?!

Na época, minhas amigas mal sabiam o que era uma micareta e, por isso, nessa primeira, fomos só eu e mais uma amiga, que acabou entrando na onda da minha empolgação. Me lembro perfeitamente da gente chegando lá e vendo aquelas pessoas bem mais velhas, mais altas e bem mais fortes do que a gente estava acostumada.rs Nós duas ficamos até meio assustadas.

Eu só pensava: "o que é que eu estou fazendo aqui?!?!?". hehe E minha amiga, provavelmente pensava: "onde a Andréa foi me meter".

Chegamos ao evento super cedo e conseguimos entrar sem problemas, apesar da idade. Antes do show começar, um DJ tocava músicas bahianas enquanto as pessoas bebíam e se beijavam daquela maneira tão...informal e desinteressada. Quase a mesma coisa dos outros lugares só que diferente - com quê de carnaval. Nós duas, ríamos e abstraíamos o que não podíamos entender. Relaxamos e começamos a nos divertir também, da nossa maneira. Até chegar uma hora que a gente realmente começou a achar que estava demorando muito pro show começar, e o resto já tava cansando. Impacientes, sentamos para continuar a espera.

De repente, quando nós ensaiávamos um desanimo, uma voz super, ultra, mega poderosa invadiu o lugar: "MEU PLANETA DEEEEEEEEEUS!!!!! Sou Adão e você seráááááá..." Levantamos no mes-mo instante. A empolgação era inexplicável, indescritível e inesquecível, nos empurrou pro meio das outras pessoas.

Não tinha efeitos especiais, não era um lugar bem estruturado. Era um chão de pedra coberto apenas pelo céu e suas nuvens. Mas aquela voz, aquelas pessoas pulando e o trio passando no meio, recarregaram nossas energias, nossas expectativas e nos fizeram entrar na dança. Nos empolgaram e envolveram a noite toda!

Cara...É diferente! A música baiana é diferente. É uma alegria diferente, é uma emoção diferente. As pessoas dançam mais livres, menos preocupadas e com mais energia, extravasando o que sentem. Nesse tipo de show, só pode ir, quem sabe brincar.

Nós gostamos tanto, que acabamos indo a várias outras micaretas e conseguindo cada vez mais meninas para ir com a gente!

Mas essa fase "micareteira" passou logo. As micaretas começaram a virar moda e eu, por esse e outros motivos, parei de ir. Mas sempre guardei excelentes lembranças de todas as que fui! E digo mais: "êêê saudaaaade que bate no meu coração"

Foi nesse espírito nostálgico e alegre que eu recebi o ingresso do Chiclete, do meu irmão que carinhosamente, tinha comprado pra mim. Tudo ía bem até eu começar a comentar com algumas pessoas sobre o assunto. Aí veio a crise! Primeiro, a maioria me falou: "po Déia, o público das micaretas ta muito diferente" e outros, apenas por que nunca gostaram mesmo desse tipo de show começaram a me questionar:
- Você? Vai no Chiclete com Banana?
- Ué qual o problema? eu sempre gostei.

O engraçado é que, depois da fase pop, veio a decadência das micaretas, e as pessoas que tinham passado a ir, pararam de frequentar e começaram a falar mal do negócio. Eu, estava tranquila, até ouvir muuuuita pilha contra e perceber que a grande maioria dos meus amigos mais próximos, de hoje em dia, achavam que eu estava viajando por querer ir numa micareta a essa altura do campeonato. Como fiquei muito tempo fora do Brasil e muito mais tempo fora da “fanfarrice” comecei a me questionar também. Será que realmente seria muito ruim?! Será que não tinha nada a ver mesmo eu ir?!

Mas peraí, eu confio nos gostos e no estilo de vida do meu irmão e da namorada dele, se eles íam não podia ser ruim. Só que eu não pensava neles. Simplesmente esquecia que eles estavam do meu lado.

Sexta a noite, o Fábio – meu irmão - me mandou uma mensagem pedindo que eu fosse pegar os abadás. Ai comecei eu a criticar o negócio; não é que eu tinha até esquecido que estava indo a um evento onde todos os homens estão de “blusa regata” (hehehe) e as meninas rasgam as blusas como podem na tentativa de se vestirem "melhor". Essa parte realmente não faz muito meu estilo...rs Mas e daí?! Que besteira! A essa hora meu pensamento já estava contaminado pelo preconceito alheio e eu queria cada vez menos ir no show.

Mas eram 130 reais. Não dava pra desistir assim fácil.

Quando fomos procurar os convites para pegar os abadás, percebemos que faltava um. Procura daqui, procura de lá e nada do ingresso aparecer. Meu irmão falou "a Andréa não guardou o dela na carteira dela?". Eu lembrava de ter deixado com ele, mas achei que ele podia ter razão; afinal, se não estava lá, tinha que estar comigo. Depois de olhar na carteira e não encontrar, lembrei de uma coisa terrível: no dia anterior, eu tinha jogado fora vários papéis que estavam lá ocupando espaço à toa. Um daqueles pepéis, em especial, me lembrava muito o jeito do convite. Fiquei arrasada por ter jogado 130 reais no lixo de bobeira. Que absuuurdo! Mas lá no fundo, beeem no fundo - devo confessar - pude sentir uma pequena pontinha de alívio! Pelo menos eu não ia poder mais ir né?!hehe Será que era um sinal? Será que aquilo realmente não era pra mim? (hahaha)

Não, não, não! Continuei muito culpada. Seria muito vacilo ter perdido o ingresso! Antes eu estar num lugar maluco, nada a ver comigo, do que jogar no lixo o dinheiro do meu irmão. Fiquei me sentindo super mal, super irresponsável. Quando já ia me desculpar com o Fábio, e saber se teria alguma solução, ele me avisa que estava com o ingresso que faltava na carteira DELE. Uuuufaaaaaaaaaaa! E lá fomos nós trocar os ingressos no Barra Garden...

Chegando lá, dei de cara com algumas "tchutchucas" felizes com seus abadas customizados. Ai-meu-Deus, deu até calafrio! Logo comecei a avaliar todo mundo no local. Não achei nada de tãão terrivel, tinha algumas pessoas tipo eu também, eu acho. Mas a essa hora eu já estava muito desconfiada do meu senso de qualquer coisa. E pra completar veio o comentário da Mami:
- Filha, acho que você não tem mais o perfil de micaretas né?
- Pois é. – resumi, engolindo seco! “onde eu fui me meter, de novo”

Ainda no lugar da troca dos abadás tinham várias pessoas se oferecendo para comprar o ingresso. Que tentação! Mas...cara, eu gostava tanto desse tipo de show, aceitei tão facil e tão feliz ao convite do meu irmão. Tinha o fato de querer sair com ele, e de não querer furar assim na última hora. Micareta nunca foi um ambiente super alto nível...e EU gos-ta-va!
Nunca fui de me preocupar se o clima é de super pegação, menos pegação, ou pegação nenhuma. Sempre soube permutar pelos mais diferentes ambientes, me adaptando às situações e hábitos de cada lugar, sem mudar o que sou. E meus amigos sabem quem eu sou. Não iam me achar uma "micareteira" só por que eu fui a micareta né?!hahaha

Mesmo sabendo a resposta, continuei na minha neura e lancei a idéia de vender os ingressos pros cambistas lá. Mas sabia que meu pais não iam querer que eu vendesse.
- Ahh você pediu pro seu irmão comprar o camarote sem querer ir?????
- Não...é que eu tenha que estudar...mas tudo bem! Deixa pra lá

Nem tentei explicar minha neurose, porque não fazia muito sentido mesmo e corria o risco de aborrecer eles. Fiquei na minha, tentando pensar positivo!

Eu sabia que, como sempre, estava pensando demais na situação. Ia ser legal!! Era só relaxar.

Domingo, antes do show meu irmão colocou umas músicas do Chiclete, que eu não conhecia. Enquanto ele se animava eu me desempolgava, outra vez! Se eu não conheço as músicas novas da banda porque queria ir nesse show? Eu realmente gosto de Chiclete? A essa altura eu ainda estava tentando definir se gostava ou não da banda. Já vestida de abadá! rs Eu estava mesmo totalmente corrompida pela pilha contra!!!Como pode?! Já não sabia mais do que EU gostava... Confusa fui pro show...

Cheguei lá super hesitante. De início, não me incomodei muito com o ambiente e as pessoas. Mas as vozes do contra continuavam a ecoar na minha cabeça. E lá, eu tinha, de um lado meu irmão e a namorada no maior amor e alegria, do outro uma pegação sinistra, sem conquista, sem interesse...pura e simples pegação. Aquilo foi, aos poucos, me ajudando a me sentir fora de lugar.

O Timbalada tocava e eu continuava a refletir sobre onde eu estava, quem eu era e o que eu queria pra minha vida. Oh! Drama! Eu sei. Não era mais só a micareta era uma crise existencial completa. hahaha

O início do show do Chiclete veio como um grande fio de esperança pra mim. Começou com uma música que eu adoro e eu cantei com certa animação. O trio veio pra nossa frente. O meu irmão tava numa alegria, que só de olhar pra ele, já dava pra esquecer as paranóias e ter valido a pena estar lá, com ele. Logo o trio parou na nossa frente e começou: "Chiiiiiiiiicleeeeeeeeteeeeeee oba! oba!". Aí, deu problema de novo! Comecei a prestar atenção na música; "Chiclete pra grudar no seu ouvido, chiclete pra ficar amarradão...". Putz! A letra é realmente muito simples. Como eu podia gostar de uma coisa boba assim, que não diz muita coisa e não me acrescenta muito. Pode alguém do meu nivel social, cultural, educada e viajada como eu gostar disso? Pode?

Ai! Que consciência petelha que eu tenho! Que se dane tudo isso. Como eu queria sair de dentro de mim um pouco. Parar de PENSAR e aproveitar numa boa! Respirei, suspirei e de repente, parei de prestar atenção nas músicas, e nos detalhes que me faziam me sentir diferente. Olhei um grupo de meninas dançando entre si numa roda. Estavam meio bebadas, é verdade, mas dançavam como se nada em volta importasse. Riam de si, cantavam de olhos fechados e colocavam os braços pro ar. Se moviam, com se sentissem a música. Pô! Muito irado! Que inveja! Fiquei olhando um tempão enquanto meu irmão e a namorada se misturavam ao povo para tentar seguir o trio.

A alegria dos outros era muito legal e começou a me lembrar do que eu gostava...Mas ainda assim, não me deixava envolver. NOSSA! Como eu to difícil! Numa certa hora, acabei percebendo meu cansaço da noite anterior, eu estava meio dolorida, meio com sono por ter dormido pouco. Mesmo quando tentava daçar não conseguia...doía tudo e faltava energia!

Pensei em ir pra casa. Mas não podia, não queria! NUNCA tinha ido embora antes de um show acabar. Eu já estava até gostando...
Mesmo assim, faltava alguma coisa. Qualquer coisa que me comovesse, qualquer coisa que convecesse. Mas eu cansei de resistir, e numa música qualquer que eu não conhecia, me despedi do meu irmão e da minha cunhadinha e resolvi ir pra casa mesmo. Fui andando sozinha me sentindo uma velha, uma desanimada! Por que eu estava TÃO blase, tão indiferente e tão "incomovível"?

Depois de ter andado e pensando bastante, estava quase chegando na saída, quando, de repente, escutei: "Um BEI-jo em você eu quero dar. Saudaaade presa no meu coraçãããão." Por alguma razão, ou por razão nenhuma, aquela música, me encheu de nostalgia, de sentimento, de alegria! "CA-RA-CA eu AMO essa múscia" pensei. No mesmo instante, desacelerei o passo, até parar, olhei pra trás e resolvi correr lá pra dentro de novo. Isso sim foi bem louco... Mas a partir daí eu já não estava nem aí. Ia fazer o que queria. Dançar, pular, cantar...

Foi mui-to legal! Me soltei, me deixei levar, cantar de olhos fechados... Parei de me importar, parei de me preocupar, parei de pensar. Fui no embalo...da simplicidade da música e da simplicidade dos meus sentimentos. De repente, eu era A- MAIS- ANIMADA!!! hahaha Na música seguinte, sem brincadeira, eu era a que mais pulava!!! Era uma das minhas preferidas também (porque afinal de contas, eu gosto de muitas musicas do chiclete!rs) e eu quase perdi por bobeira. Encontrei meu irmão de novo, ele até me colocou nos ombros e eu, sem timidez, me diverti! O show foi demais!!!!

Nada como se libertar dos preconceitos, se deixar levar, se desprender de vergonhas, da opinião alheia e todo os resto. Todo mundo tem suas bobeiras, suas paraibisses, suas criancisses, suas simplicidades...
Pra mim, é isso que dá graça a vida!

"Não pode ser tão complicado se entregar a uma paixão...Deixa os detalhes de lado, vamos viver do nosso jeito!" Do nosso jeito - Chiclete com Banana

:)

3 comentários:

DAlmeida disse...

Confesso que nao curto musica bahiana, por varias questoes até ditas por voce. Mas achei bacana o que escreveu e a maneira com que enxerga a vida.

Nao sei se já viu uma comunidade no Orkut, ao qual eu acho a melhor, "Teoria Playmobil". Nada no mundo que possa acontecer irá tirar esse meu sorriso do rosto.

Tudo que aocntece na vida tem um lado bom, é só procurar direitinho.

Se cuida e parabens pelo texto.

b!

Maria Escandalosa disse...

HAHAHA!Muito bom, Déia! Eu sinceramente, odeio Axé, mas em compensação adoro um pagode, um sertanejo, um funk e até tecno-brega paraense e não estou nem aí para o que os outros pensam disso!
O que faz uma música ser boa não é a sua complexidade, mas sim o quanto ela te emociona, te diverte, te faz feliz!

Beijo,
Belinha.

Line disse...

Pagodão sensual da Bahia, sertanejo que fala da perda da mulher amada, funk carioca que fala da sensualidade da mulher carioca e brasileira(não esse funk depressivo de gringo que falam que é o "verdadeiro", forrózão moderno e estilizado que também fala da mulher de uma forma sensual e só gente chata e pseudointelectualoide não gosta. Já o tecnobrega não curto muito porque odeio música eletrônica. Micaretas! Rodeios! Tudo isso é bom demais! Viva a farra!